Mario Kempes é uma das maiores figuras do futebol mundial. Melhor jogador e artilheiro da Copa do Mundo de 1978, que a Argentina ganhou em casa, hoje mora nos Estados Unidos, onde trabalha como consultor da ESPN.

O ex-atacante de 68 anos, que está no Catar na campanha 'Fifa Legends' promovida pela Federação Internacional, disse em uma entrevista à AFP que não há favorito entre Argentina e França na final do Mundial.

"Está 50-50", afirma, acrescentando que "falta uma Copa do Mundo a Messi", mostrando a sua torcida para que o craque de 35 anos seja recompensado com o título na sua última participação no torneio.

Pergunta: Como você vê a final de domingo?

Resposta: É difícil fazer uma análise de quem chega melhor. É uma final, está tudo em 50-50. Que a Argentina passou de menos para mais, isso é certo. Que Scaloni encontrou esse time ideal que toda seleção deve ter, isso é verdade. Ele encontrou isso em Fernández, em Julián Álvarez, como essas grandes surpresas que surgem no Mundial, e conseguiu equilibrar a equipe. Me parece que a França sofreu muito contra o Marrocos. Perdeu quase 70% da bola. O Marrocos levou um gol aos cinco minutos e ficou desorganizado, como acontece com todas as equipes que estão perdendo no início do jogo e que, normalmente, não chegam nunca nessa fase da competição. É uma partida muito equilibrada, na qual não podemos dizer que Mbappé se sairá melhor do que Messi ou que Messi será melhor que Mbappé, eu acho que o time vai apostar em sua estrela.

P: Então você não vê um favorito?

R? Não há um favorito, não tem um 60-40. Acho que são duas seleções que vão nos presentear com uma boa partida porque trabalham bem a bola, são cuidadosos, se defendem bem. O que menos errar vai levantar a taça.

P: Quem é melhor agora: Mbappé ou Messi?

R: Os dois. Mbappé é o futuro. Messi já vem sendo, há muito tempo, o melhor jogador do mundo. Isso te faz pensar que uma vez que Messi não estiver... eu acho que ele vai continuar jogando, mesmo que com uma rotação mais abaixo. Mbappé praticamente só começou, apesar de já ser campeão mundial.

P: Fala-se muito do Mbappé, mesmo com Griezmann, Giroud...

R: É que o Griezmann começou a despertar após o Barcelona o vender diretamente ao Atlético de Madrid. Embora tenha jogado 20 ou 25 minutos e não tenha se encaixado. Ele melhorou muito, é um desses jogadores diferentes que a seleção francesa têm, mas são jogadores que têm à frente um grande astro, também não são muito vistos. Eles têm um papel muito importante para a equipe.

P: Qual pode ser a chave para a final do domingo?

R: Nenhum dos dois pode entrar distraído. E acho que quem sair atrás vai perder. O protagonismo pode estar no meio de campo. Os dois têm muito bons jogadores no meio-campo. Mas também têm bons defensores, que quando precisam bater, batem, e o ataque define muito. Agora, com Julián Álvarez, a Argentina achou um gol. Não que Lautaro (Martínez) esteja mal, mas estava errando o gol.

P: O que pensa sobre Julián Álvarez e Olivier Giroud, que marcaram quatro gols cada?

R: Giroud é o oportunista de sempre, aquele que está lá no banco esperando a chance, e com a ausência de Benzema, se dá maravilhosamente bem com Mbappé e Griezmann. Afinal, Giroud é o protagonista porque na Copa da Rússia não fez nenhum gol e agora disparou com quatro e trabalha muito bem. São mudanças de artilheiros que têm suas fases. Julián Álvarez é um jogador que estava no banco, talvez não houvesse expectativas ou que entrasse por um tempo, ou sim, dependendo do jogo, mas ele e (Enzo) Fernández deram sorte a esta equipe, digamos, de Scaloni, que encontra a solução para esta seleção com dois jovens que não contava no roteiro normal.

P: Além de Messi e Álvarez, quem mais se destaca?

R: Acho que todo o elenco. A Argentina, a nível de equipe, tem se fortalecido muito: o trabalho de De Paul, de Mac Allister... todos têm trabalhado para que a seleção forme uma boa equipe, um bom grupo em que Messi pudesse se destacar. Porque se a seleção argentina joga bem e os jogadores estão à altura, Messi sempre será melhor.

P: Messi te surpreendeu?

R: Não. Acho que no final ele acertou em ir para a França, porque jogando no Barcelona, com a pressão que sente lá, talvez chegasse um pouco cansado ao Mundial. Em vez disso, foi para a França, para um time que realmente ganha o campeonato em um ritmo mais cadenciado, e isso te faz pensar que ele chega bem disposto, descansado e mais ou menos igual a Mbappé.

P: E sobre Mbappé, como o definiria como jogador?

R: É o sucessor dos melhores jogadores do mundo. Temos visto Cristiano Ronaldo com uma rivalidade impressionante com Messi. Logo veremos se Mbappé surge com alguma rivalidade para ter uma perspectiva diferente. Mas creio que vá por esse caminho. Agora, não sei se Mbappé, estando na França, em uma equipe como o Paris Saint-Germain, que ganha a Liga (francesa) como quer e no momento que quiser, mas que por enquanto, falta ganhar a Liga dos Campeões. A não ser que vá para outro time em um campeonato mais competitivo... só assim saberemos. Não estou dizendo que o Campeonato Francês é fraco, mas precisa de um pouco mais de pressão.

P: Qual a diferença entre as seleções da Argentina de 1978, de 1986 e a atual?

R: Tem duas que são campeãs e a de agora está muito próxima. Em 1978 e 1986, por sorte, saímos campeões. Falta uma Copa do Mundo de Messi. Veremos o que acontece.